PALAVRA DA IGREJA:

CNBB

Comissão Especial Episcopal Pastoral de Combate ao Tráfico de Pessoas

(CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Boa Vista, Roraima, 04 de março de 2018

Carta à sociedade brasileira

“Vi a opressão do meu povo, ouvi o clamor de angústia diante dos seus opressores e ouvi falar dos seus sofrimentos” (Êx 3:7-8).

Nós, membros da Comissão Especial Pastoral Episcopal de Combate ao Tráfico de Pessoas (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada de 1 a 4 de março de 2018, nas cidades de Boa Vista e Pacaraima (RR), o Missão “Fronteiras Brasil/Venezuela”. Objetivou conhecer in loco a situação que envolve a imigração atual na fronteira entre Brasil e Venezuela, em especial verificar a ocorrência de tráfico de pessoas e ser uma presença solidária e profética.
Foram realizadas visitas na fronteira Brasil/Venezuela, nos abrigos indígenas Warao em Pacaraima e Pintolândia, e Tancredo Neves em Boa Vista, abrigo para venezuelanos; audiências com a Polícia Federal e o Governador do Estado; encontros com os bispos de Roraima, Monsenhor Mário Antônio Silva e com o Bispo de Santa Elena de Uiarén-Venezuela, Monsenhor Felipe González González e com o pároco da Igreja Sagrado Coração de Jesus em Pacaraima, Pe. Jesús López Fernández; com as Pastorais Sociais, Comitê Estadual de Combate à Exploração Sexual e Tráfico de Pessoas, Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e outras organizações da sociedade civil. Infelizmente não conseguimos dialogar com o prefeito do município de Boa Vista.
Também participamos de entrevistas em programas de rádio e televisão. Na ocasião, celebramos com as comunidades da Paróquia Nossa Senhora da Consolata e da Catedral do Cristo Redentor.
Essas atividades nos colocam em contato com uma realidade cruel e desumana que clama por respostas rápidas, efetivas e articuladas das igrejas, do Estado e da sociedade em geral.
Nossos olhos viram: longas filas de imigrantes e refugiados em busca de documentação, transporte, alimentação e trabalho; crianças famintas, desnutridas, doentes, fora da escola; jovens desempregados sem perspectivas de futuro, expostos à toxicodependência e a todo o tipo de vulnerabilidades; mulheres vítimas de violência, exploração sexual e trabalho; pessoas sem escrúpulos explorando a miséria dos irmãos e irmãs imigrantes e refugiados no trabalho e alterando os preços dos alimentos e outras mercadorias. Ficamos particularmente impressionados com a visita ao abrigo Tancredo Neves, conhecido como “Tancredão”, devido ao estado de total abandono e degradação da dignidade humana.
Nossos ouvidos ouviram: lamentos de dor e denúncias de graves situações de violação de direitos e falta de políticas públicas elementares como alimentação, saúde, higiene, segurança, educação; denúncias de violência policial, violência contra a mulher, exploração sexual e laboral, tráfico de drogas e de pessoas e omissão total do poder público.
Nossos corações sentiram: profunda indignação diante dessa realidade desumana e injusta ao constatar a ausência e o descompromisso dos poderes constituídos em dar respostas; descobrir que a preocupação com a beleza das praças é mais importante que o cuidado com a pessoa humana; ouvir as expressões discriminatórias em relação aos migrantes e refugiados e compreender o quanto precisamos para viver o Projeto de Deus que nos torna irmãos e irmãs.
Em meio a esta realidade gritante também vimos e ouvimos com alegria e esperança muitas ações fraternas e solidárias de indivíduos, famílias, grupos, igrejas e instituições da sociedade civil; apoio de instituições internacionais e grande abertura e dedicação por parte da Igreja local, priorizando o atendimento aos imigrantes e refugiados.
Esse cenário desolador nos desafia a assumir ações e posições pessoais e coletivas de acolhimento, solidariedade e incidência política de forma articulada nos níveis local, estadual e nacional.
Por isso, em nome do CEPEETH, fazemos um forte apelo às igrejas e à sociedade para uma maior preocupação com nossos irmãos e irmãs, imigrantes e refugiados. Nesse sentido, pedimos a todos que:
– Maior conscientização e envolvimento com nossos irmãos e irmãs, por meio de práticas de voluntariado;
– Participação efetiva e generosa na campanha de solidariedade da CNBB em favor dos imigrantes e refugiados venezuelanos;
– Mobilização e advocacia política junto aos órgãos públicos, nacionais, estaduais, municipais para que assumam seu papel de viabilizar as políticas públicas e garantir os direitos de nossos irmãos e irmãs;
– Realizar e/ou participar de campanhas educativas permanentes sobre migração e tráfico de pessoas em todas as organizações eclesiásticas e na sociedade.
A Palavra de Deus, ao afirmar que “todos somos irmãos e irmãs” (cf. Mt 28,7), nos exorta a viver a fraternidade como forma de superar todas as violências e desigualdades. Reconhecemos e apreciamos a grandeza de espírito de tantas pessoas que, sensíveis à dor de nossos irmãos e irmãs imigrantes e refugiados, já estão dando sua contribuição.
Que Nossa Senhora Aparecida interceda junto a Deus por todos nós para que nos comprometamos com firmeza nesta missão de “acolher, protegendo, promovendo e integrando” nossos irmãos e irmãs imigrantes e refugiados em nossa pátria.
Dom Enemésio Lazzaris
Bispo de Balsas (MA) e Presidente da Comissão Especial Episcopal Pastoral de Combate ao Tráfico de Pessoas/CNBB